quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Linguagem e imaginação - Reflexões para a construção do conhecimento químico no processo ensino-aprendizagem

Profª. Isabel Cristina Silva Lanna Ferreira

1. Introdução:

Refletir sobre a construção do conhecimento no processo ensino aprendizagem implica na necessidade do conhecimento das linhas pedagógicas e do funcionamento da construção do saber científico.

Este artigo, não tem como finalidade discutir as linhas pedagógicas, mas sim de analisar as práticas pedagógicas utilizadas na construção do conhecimento científico.

De acordo com a L.D.B. há necessidade de se contextualizar os conteúdos de ensino na realidade vivenciada pelos alunos, a fim de atribuir-lhes sentido e, assim, contribuir para uma aprendizagem significativa.

Ao refletirmos sobre a construção do conhecimento não podemos esquecer do termo “construção”, pois o conhecimento não é “depositado” ou transferido” pelo educador, e nem “inventado” pelo educando, mas sim construído por ele, onde o processo de conhecimento é estimulado e orientado pelo educando através de metodologias de trabalho que abranjam um conjunto de objetivos e transformem o educando em um ser ativo e com interesse em conhecer o mundo.

Para dar significado ao conhecimento problematizado e aprendido pelo aluno não se deve ignorar os desafios de uma abordagem contextualizada, pois reduzir o saber aos limites da necessidade imediata do aluno impediria a ampliação dos horizontes.

“Para a elaboração efetiva do conhecimento, deve-se possibilitar o confronto entre o sujeito e o objeto, onde o educando possa penetrar no objeto, aprende-lo em suas relações internas e externas, captar-lhe a essência. Trata-se de um segundo nível de interação, onde o sujeito deve construir, pela sua ação, o conhecimento através da elaboração de relações cada vez mais totalizantes... O educador deve colaborar com o educando na decifração, na construção da representação mental do objeto em estudo.” (Vasconcelos, 1999)

Atualmente, a mídia transmite informações não esclarecedoras sobre usos da Química, e sim exageradamente técnicas ou mesmo errôneas, fazendo com que o educando absorva estas informações de forma unilateral, transformando a disciplina em uma das vilãs dos problemas existentes, como bombas, poluição, buraco na camada de ozônio. Aproveitar tais informações e transformá-las em objetos de construção do conhecimento científico deve ser o objetivo do educador pois, desta maneira, ele fará com que o educando interaja com o que ele vê, junto com suas idéias e conceitos transmitidos em sala de aula tirando assim suas conclusões. Por outro lado o educador deve estar sempre presente, questionando, aguçando a curiosidade, despertando-o assim à uma melhor reflexão dentro do nível de conceptualização e pré-conceptualização do educando e o contexto no qual se situam. É imprescindível neste momento que o educador organize muito bem os conceitos que devem ser aplicados. Ao aplicarmos novos conceitos os educandos se deparam com uma ruptura de seus paradigmas, dando uma abertura para novas investigações e aquisição de novos conceitos científicos. Isso faz com que o aluno tenha uma nova visão do mundo que o rodeia. Para que esta ruptura de paradigmas não se depare com obstáculos pedagógicos, o educador em suas explicações deverá fazer uso de metáforas e analogias para fornecer base para trabalhar e construir uma nova idéia. O uso de histórias e analogias para explicar a ciência, instiga o aprendizado, pois a explicação deve ser persuasiva, interativa e apresentada de forma a saciar uma necessidade: o entendimento, por isso o professor deve motivar o aprender vinculando o querer aprender com o dever aprender.

E como os professores abrangem a Química ?

O ensino da Química em inúmeras escolas, está longe da proposta de construção do conhecimento, e está reduzido a uma simples transmissão de informações com definições e leis isoladas, sem nenhuma relação com o cotidiano do aluno, limitando-o a baixos níveis cognitivos.

Freqüentemente encontramos professores de Química que utilizam boa parte do tempo resolvendo exercícios sem se preocupar com a formação científico-cultural. Quando questionados, os mesmos mostram uma despreocupação com o educando, não os conhecem e muitas vezes não sabem qual postura tomar diante de situações diferenciadas o qual enfrentam em sala de aula. As atitudes destes profissionais com certeza, comprometem a construção do conhecimento científico e geram no aluno um sentimento de obrigação de estudo fazendo desaparecer o sentimento de descoberta de respostas, das questões que o mundo lhe propõe. O aluno passa a ser passivo, pois não existe um meio que estimule a curiosidade e fortaleça a confiança do aluno.

A linguagem e a imaginação contribuindo para a construção do conhecimento Químico.


“Considerando, entretanto, que o ensino de Química praticado em grandes números de escolas está muito distante do que se propõe, é necessário então que ele seja entendido criticamente, em suas limitações, para que estas possam ser superadas” (PCN – 1999 - p. 241)

Com esta idéia, resolvi posicionar-me de forma diferenciada em sala de aula, proporcionando desde o primeiro dia de aula, uma interação com os meus alunos, usando uma linguagem que busca instigar o aprendizado, explorando a imaginação e sempre partindo do princípio de que o aluno já traz um conhecimento prévio, possibilitando-o organizar e moldar suas representações sobre o mundo, buscando assim uma aprendizagem significativa.

Acredito que: “O aprendizado de Química pelos alunos de Ensino Médio implica que eles compreendam as transformações Químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos” (PCN – p. 240; 1999) por isso no primeiro dia de aula, procuro conhecer meu aluno e verificar o conhecimento químico pré existente que ele traz. Procuro questionar os alunos sobre a importância da Química, e conto uma história:

Joãozinho em seu primeiro dia de aula resolve perguntar ao seu professor:

- Professor, para que serve a Química?

O professor abismado com o questionamento do aluno começou a pensar:

- Não entendo como ele pode me fazer uma pergunta absurda desta! A Química está por toda a parte, quando acordamos acontecem inúmeras reações dentre de nós, levantamos e colocamos os pés em um chinelo de borracha ... que é Química, vamos ao banheiro, escovamos os dentes com pastas que são pura Química, usamos a água... H2O...vamos à cozinha para tomar nosso café onde até a xícara que é de barro mas passou por inúmeros processos químicos. No ônibus, na escola... estamos cercados pela Química...

Neste momento o aluno interrompeu o professor:

- E aí professor, não vai me responder?

O professor respondeu:

- A Química serve para você repetir de ano.

Ao contar esta história, vejo que ela desperta nos alunos a imaginação e instiga a curiosidade. E são com estes sentimentos que procuro trabalhar a importância da Química, explicando que existem sim, professores como na história, mas que a partir daquele momento gostaria que eles observassem ao redor e reconhecessem a Química em todo lugar, pois é assim que eles construirão o conhecimento químico, fazendo uma estreita relação com o mundo que os cercam.

Seguindo o raciocínio, questiono-os se a Química é boa ou ruim. Sempre numa totalidade eles respondem que a Química é ruim pois mata, polui e constrói bombas atômicas. Tento mostrar que não é a Química o grande vilão, questionando-os com uma metáfora:

- Quem mata é a faca ou o homem com a faca? A faca não mata, quem mata é o homem usando a faca! Então quem é o vilão: a Química ou o homem que faz mal uso da Química?

Procuro espelhar minhas aulas em algumas citações como: “Um meio sem intenções didáticas evidentemente é insuficiente para lograr que o aluno se aproprie de todos os conhecimentos culturais que se deseja que adquira”(Brousseau, 1986) e observo que a linguagem que aproxima o aluno da realidade torna o aprendizado significativo então “aprender nesse caso é atividade prazerosa, pois engaja-se não somente a razão, mas também as emoções. Lidar com a imaginação acarreta emoções que permanecem vivas em nossa mente.” (Pietrocola – Texto: Curiosidade e Imaginação)

Assim conduzo minhas aulas, buscando abstrair os conceitos e utilizando estratégias diferentes fazendo com que o aluno consiga realmente adquirir o conhecimento e construir um pensamento-científico, pois, acredito no que Piaget afirma: “Conhecer não consiste, com efeito, em copiar o real mas em agir sobre ele e transformá-lo (na aparência ou na realidade), de maneira a compreendê-lo em função dos sistemas de transformação aos quais estão ligadas estas ações”(Biologia e Conhecimento, p.15, 1973)


Referências Bibliográficas


CASTORINA, J.A.; FERREIRO, E.; LERNER, D.; OLIVEIRA, M. K. ; Piaget-Vygotsky: Novas contribuições para o debate; 6 ed. São Paulo: Editora Ática, 2002.



EINSTEIN, A.; Escritos da maturidade; 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.



GIORDAN, A.; VECCHI, G. ; As origens do saber; 2 ed. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1996.



MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA; Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio; Brasília, 1999



PIAGET, J.; Biologia e conhecimento, São Paulo: Vozes, 1973.



VASCONCELOS, C.S.; Planejamento de Ensino – Aprendizagem e Projetos Político Pedagógico; São Paulo: Libertad – Cadernos Pedagógicos da Libertad, v1, 1999.



____________________________; Planejamento de Ensino – Aprendizagem e Projetos Político Pedagógico; São Paulo; Libertad – Cadernos Pedagógicos da Libertad, v1, 1999.